sexta-feira, 29 de abril de 2011

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA - Carlito Lima

                                          CARTAGENA


Carlito Lima batendo na casa de Gabriel Garcia Márquez

Ao pisar no aeroporto tropical, muita planta, muito verde, veio-me forte emoção como se de repente revisse um amor antigo.  O taxi entrou no sítio histórico da cidade arrodeado por muralhas, defesa contra corsários invasores. Ruas estreitas, becos e esquinas bucólicos, casas avarandadas, muitas flores, arquitetura espanhola, me senti em casa ao entrar em Cartagena. Tive nítida impressão que já conhecia a cidade, que em alguma época morei naquele local.
 Cheguei ao Hotel Bantú, casarão antigo, mais de quatro séculos, restaurado com material moderno, conservando paredes, pisos e tetos. Guardei as malas, logo fui passear pelas ruas. Carroças, carruagens, se misturavam aos taxis e pequenos carros. Andei devagar contemplando cada casa, cada esquina, cada rua, cada praça, respirando cultura, história. 
   Turistas de bermudas se misturam com nativos de poucas e leves roupas. Colombianas bonitas charmosas exalam sensualidade à flor da pele e no sorriso. Mulheres belas, simples, ricas e pobres nos bares, restaurantes, casas de artesanatos, ou lojas de vendas das esmeraldas, as mais puras do mundo. O ouro e a prata fizeram a história da colonização espanhola. Cartagena, porto de entrada de navios negreiros, mercadores de escravos os vendiam em toda região. Cartagena, porto de saída do ouro, das riquezas da terra, riquezas dos nativos. Ouro e prata saíam para Europa. Corsários, geralmente ingleses e franceses, saquearam navios, atacaram e saquearam a bela Cartagena muitas vezes. Por tudo isso foi construída uma muralha de 11 km em torno da cidade, defesa militar. A bela cidade ficou protegida dos piratas, e do tempo, do modernismo. Dentro da muralha encontra-se o sítio histórico, Patrimônio da Humanidade. As casas, casarões, conventos não podem ser modificados; restaurações apenas com projeto aprovado pela “curadoria urbana”.
    Ah Cartagena, linda Cartagena, mancharam seu nome.  Mancha contra a história humanidade quando o Tribunal de Penas do Santo Ofício foi instituído por Felipe III em 1610; funcionou até 1811. A ação da Inquisição em Cartagena marcou cruelmente a história colonial, sua abolição só veio com a independência da Colômbia.  A Inquisição voltada contra o ateísmo, a bruxaria, a bigamia, o adultério, e outros pequenos delitos, na verdade tinha a finalidade de a Igreja ter o controle político. Visitei o Museu da Santa Inquisição, instrumentos de tortura, o “garrote”, o velho “pau de arara”, já usado naquela época, e o pátio das forcas com os cadafalsos. Tudo bem conservado, para que nunca mais a humanidade em busca da verdade use esses instrumentos. A Santa Inquisição funcionou no mundo durante seis séculos, optou por explorar o confisco dos bens e se utilizou da tortura e da morte para manter o poder no seio da sociedade. A Igreja devia pedir perdão à humanidade todos os dias.
A Colômbia foi dos primeiros países a se tornar independente da Espanha, 1810. A independência dos países latinos americanos foi o sonho do venezuelano subversivo, General Simon Bolívar, dedicou sua vida para libertar os países do julgo espanhol por mais de 400 anos. Bolívar é um herói do continente, é o Libertador das Américas. E Cartagena foi sua cidade predileta, como é também a predileta do grande escritor Gabriel Garcia Márquez. Em suas histórias, Gabo tem sua querida cidade como cenário. O escritor é outro herói do continente.  Gabriel Garcia Marquez, gênio da literatura mundial, mora em Cartagena e no mundo.  Na sexta-feira da paixão por volta do meio dia, fui à sua casa conversar, bati à porta, me apresentei como escritor brasileiro. Fui bem recebido, entretanto, meu colega viajava pelas bandas do México.
       Retornei à minha Maceió. Deixei alguns amigos naquela cidade cheia de história, voltarei. Tenho certeza, em outra encarnação morei em Cartagena, reconheci a enorme casa onde nasci e vivi entre os séculos XVIII e XIX, eu era o infante Dom Carlos Agustín Heredia y Izquierda, “El criollo reprodutor”, amigo de Bolívar, ajudei-o, por baixo dos panos, em suas guerras de independência, fizemos grandes farras com belas cartageneras.

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