sábado, 31 de outubro de 2015

UM TEXTO DE MARCOS DAVI

O bizarro na América Latina

MARCOS DAVI, MÉDICO, MEMBRO DA AAL E IHGAL

Ao receber o Prêmio Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez enalteceu o relato do navegante florentino Antônio Pigafeta, que acompanhou Magalhães na primeira viagem ao redor do mundo, e ao passar pela América Latina escreveu uma crônica rigorosa,que, no entanto parece uma aventura da imaginação.

Pigafeta descreveu porcos com umbigo no lombo, pássaros sem patas cujas fêmeas usavam as costas dos machos para chocar e um animal com cabeça e orelhas de mula, corpo de camelo, patas de cervo e relincho semelhante ao cavalo. Relatou que puseram um espelho frente ao primeiro nativo que encontraram na Patagônia , o qual ficou ensandecido, e perdeu definitivamente o uso da razão pela visão da própria imagem. 

Tanto tempo depois, a imagem que os latino-americanos passam para o mundo permanece tão bizarra quanto aqueles animais descritos pelo florentino. Aqui é o único lugar no mundo aonde o esquerdismo ainda se emula em populismo para manter sua visão atrasada do papel da sociedade, seu desprezo absoluto pela democracia e sua visão deformada da economia e do papel do mercado.

Nessa estrada esburacada latino-americana que serpenteia em descompasso com o resto do mundo, a possibilidade das eleições na Argentina afastarem do poder o peronismo, quintessência desse populismo, é um sopro de oxigênio, uma possibilidade concreta de ressurgimento do mínimo de racionalismo no Continente. O mesmo ocorreria na Venezuela, cuja economia foi destroçada pelo autoritarismo bolivariano, se eleições realmente democráticas e honestas ali se realizassem.

A América Latina, por uma ação de militantes radicais que não acompanham minimamente o que ocorre no mundo, é forçada e falsamente a depositária última das utopias esquerdistas no mundo; é como se toda vez que fossemos sair às ruas pudéssemos cruzar com aqueles animais grotescos citados por Pigafeta, todavia, nada é mais bizarro do que o esquerdismo latino-americano.

Paulo Francis, que morreu de um infarto por ter denunciado a Petrobras como um sorvedouro gigantesco e insaciável dos recursos nacionais, dizia que o esquerdismo brasileiro consubstanciava-se em uma forma de religiosismo que impedia o raciocínio. Ao que se somaria a indisposição brasileira ao conflito cultural, a tendência à corriola onde todo mundo troca certezas e o Estado, inesgotável provedor, com seus impostos escorchantes à fustigar inclemente e eternamente quem trabalha, vai assim mantendo privilégios e benesses aos apadrinhados do poder. A imagem ao espelho continua aterradora.

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